Registro Histórico




O centro histórico da cidade de Campos dos Goytacazes foi praticamente consolidado, a partir do Plano Urbanístico do sanitarista Francisco Rodrigues Saturnino de Brito, planejado em 1902, muito embora as obras de organização urbana somente tenham sido iniciadas após 1906, como registra a pesquisa da Dra. Teresa de Jesus Peixoto Faria, no texto “As reformas urbanas de Campos e suas contradições”.
            Ela cita, em sua pesquisa, que havia, além da reformulação urbanística, a necessidade de resolver questões d falta de saneamento, responsável pelas epidemias, como a peste bubônica, que assolou o município, situação agravada pela grande enchente verificada naquele ano, resultando em inundações, o que levou o médico Dr. Benedito Pereira Nunes, idealizador da “cidade saneada”, a observar que, em 1906, nada tinha sido feito com relação ao projeto de Saturnino de Brito. E fez o seguinte discurso, publicado na Gazeta do Povo, solicitando a intervenção do Governo Federal:

Em 1901, quando presidia a Câmara Municipal de Campos, eu disse que, realmente, Campos, doada de uma natureza e de situação topográficas excepcionais e que poderia ser chamada a Sultana da Paraíba se transformou, por negligências da engenharia indígena e da edificação colonial numa cidade de ruas tortuosas, de becos e de ruelas escuras, cheia de casebres obscuros e insalubres, criando, assim, um ambiente de condições idênticas às das cidades asiáticas, onde a peste é endêmica. Os velhos casebres que existem ainda hoje e onde vive a classe operária pagando baixos alugueis, confirmam este estado de coisas. Atentados flagrantes às regras de higiene, legitimando de maneira criminosa o direito dos proprietários pouco escrupulosos, exploradores conscientes dos pobres moradores de casebres úmidos, verdadeiros pardieiros pagos com o suor das vítimas.


            Tetê Peixoto assinala: E é o próprio prefeito Ferreira Landim que, em novembro de 1906, anuncia, em discurso também publicado no mesmo jornal, no qual fala nas dificuldades para colocar a arquitetura de suas habitações de conformidade com os novos modelos em difusão: “O problema de salubridade das habitações exige, mais do que nunca, a atenção do poder municipal. É necessário melhorar as condições de higiene das casas, transformar o sistema de edificações, expurgar a cidade dos velhos casebres, focos de infecções de toda a espécie – da tuberculose e da peste, principalmente. No ano passado, fiz demolir nos termos da lei, 45 desses velhos pardieiros e as enchentes completaram, em parte, esta obra de saneamento (...)”. A reforma urbana na cidade de Campos dos Goytacazes obedecia, em tese, ao que era feito no Rio de Janeiro, nos tempos de Pereira Passos, por volta de 1904.
            Da lista de demolições de velhos edifícios, publicados em seu trabalho, que parecem prejudicar a imagem da cidade constam 32 demolições e foram condenados 16; construíram-se nove casas novas; 18 foram totalmente reconstruídas, e 16 parcialmente; foram feitos 48 grandes reparos e 217 pequenos reparos. E o Dr. Pereira Nunes, condenou a cidade “velha”, segundo ele, invadida por ratos. E reafirma que “Campos reclama de medidas como impermeabilização do solo e a abertura de áreas de circulação”,
            No documento, a pesquisadora salienta (...) O velho tecido urbano é transformado, progressivamente, graças às reformas que visam, além do embelezamento da cidade, dar-lhe uma melhor funcionalidade, adaptando-a aos interesses da economia capitalista e da burguesia em plena ascensão. Finalmente, neste começo do século XX, é necessário dotar a cidade dos símbolos do progresso e de uma imagem de modernidade.
            E ele descreve algumas mudanças operacionalizadas com as reformas do Plano Saturnino de Brito: “As Ruas: 21 de Abril, Sete de Setembro, Constituição (Rua Alberto Torres) e Formosa (Tenente Coronel Cardoso) foram alargadas; a antiga Praça das Verduras (Praça do Chá-Chá-Chá) foi urbanizada e transformada em praça de lazer; a Praça São Salvador, já com belo jardim, é ornamentada com uma fonte, os edifícios se renovam como o Renne, o Café High-Life,m Bom Marché e novos edifícios surgiram, como o do Banco do Brasil (1910), Associação Comercial de Campos (1913), Correios e Telégrafos e sede da Lira de Apolo (1917) e o antigo Teatro Trianon (1921). Desses citados, somente sobreviveram o Renne (com mudanças nos anos 50) e a Lira de Apolo (ora em restauração).
            Hoje, o conjunto de obras ecléticas, o maior do interior do Estado, praticamente está restrito às Ruas: 21 de Abril, Santos Dumont, Teotônio Ferreira de Araújo (antiga Barão de Cotegipe), Praça do Santíssimo, Sete de Setembro, 21 de Abril, Avenida Rui Barbosa, Rua 13 de Maio (antiga Rua Direita) e Rua Formosa (Tenente Coronel Cardoso), embora existam outros espécimes da época espalhados por outras artérias da cidade, atingindo até bairros mais distantes e em alguns distritos, como Goytacazes, Dores de Macabu, Murundu, Santa Bárbara, Vila Nova, Morro do Coco, Santa Maria e Santo Eduardo. Só para citar alguns...
            O centro histórico de Campos é, com outros avanços ocorridos nos anos 40, por intervenção da empresa Coimbra Bueno, nos tempos áureos do Prefeito Salo Brand, que era engenheiro, o que estabelece a Lei (Plano Diretor) 7.972, de 30/03/2008, quando se inicia, embora tardiamente, a se adotar uma política de preservação do patrimônio Histórico e Cultural do Município, cuidando de suas instâncias materiais e imateriais.

Pesquisa da Arquiteta Mary Jane Araújo sobre o estilo Art Déco

            A Art Déco nasceu da combinação de movimentos variados do princípio do século XX, tais como o Construtivismo, Cubismo, Bauhaus, Art Noveau e Futurismo. Todas estas expressões modernistas, combinadas à cultura hindu, asteca, egípcia e oriental, bem como ao estilo do balé russo de Diaguilev, do Esprit Noveau do arquiteto, urbanista e pintor francês Le Corbusier; e da Companhia de Arte Francesa, imprimiram seus vestígios nos produtos Art Déco.
            Esta arte também está presente na criação do escultor brasileiro Victor Breceret. Assim, este estilo pode ser encontrado igualmente neste país, especialmente no Rio de Janeiro, em vitrais, escadas, na Central do Brasil, no núcleo central da metrópole. Na Europa o ápice desta produção artística se deu na década de 20, e nos EUA ela seguiu ao longo dos anos 30.
            Há exemplos de um viés art déco com compromissos fortes com a composição Beaux-Arts, através da simetria no tratamento das fachadas e de uma adaptação de elementos da linguagem clássica – frontões, pilastras, óculos e platibandas – à déco. O escalonamento de platibanda foi um dos recursos mais mobilizados pelo art déco no Brasil.
            Em prédios altos, igrejas e instalações fabris a composição escalonada de volumes foi uma solução frequente, coerente com a ênfase na altura e com a busca de monumentalidade. Nestes e em outros programas de uso coletivo – clubes, cinemas, etc. – o uso de princípios de hierarquização, expressos em formas escalonadas e na ênfase ao acesso principal, se evidencia. Em casas populares e pequenas lojas a estética déco é localizada, sobretudo, na forma de detalhes ornamentais das fachadas, que são empregados de forma bastante parcimoniosa e se concentram, principalmente, nas platibandas.
            No Brasil, a Art Déco chegou no final da década de 1920 e ganhou força sobretudo na arquitetura. São várias as construções neste estilo que podemos encontrar no Brasil. Exemplos: Elevador Lacerda (Salvador), Teatro Carlos Gomes (Rio de Janeiro), Biblioteca Municipal Félix Araújo (Campina Grande), Viaduto do Chá (São Paulo), Central do Brasil (Rio de Janeiro), Estádio do Pacaembu (São Paulo) e Estação Ferroviária de Goiânia.

Entre as características do art déco, eu destaco:
            Traços mais sintéticos, mesmo quando a imagem é figurativa.
            A predominância de simetria.
            Linhas simples e formas geométricas em vez dos arabescos da art noveau.
            Influência dos movimentos artísticos da época como o Futurismo, Construtivismo e o Modernismo em geral.
            Influência de fontes “exóticas” do mundo ocidental como o Ballet Russo e as culturas egípcia, asiática, grega...
            Baquelite, plástico, alumínio e materiais de custo menor em suas origens, na confecção dos objetos.

          Inventário em 23/01/2015 – Arquiteta Mary Jane Araújo
Fotografia: Valdimir da Silva Salino
Responsável: Orávio de Campos Soares

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